sexta-feira, 12 de julho de 2013

NINHO

Piracema - Ninho de pássaros- aconchego - foto by Celêdian 2009


Ouvia no oco vazio do silêncio, ecos das lembranças,
dos amores que ludibriaram sonhos e a vontade de amar.
Eram ruídos murmurantes, como escoar de águas mansas,
perseverantes e como se demarcassem no tempo, o lugar.

Não se adivinhava do seu movimento simulando danças
e nem se cogitava, contudo, dos desvios por onde rumar,
retrocedendo à margem e reavendo mortas esperanças,
onde a emoção do presente era caminho novo a trilhar.

Vislumbrava agora em um ninho, o fim de desesperanças,
num peito macio, tal alcatifa, por onde mãos a passear,
repousavam ternamente, em cúmplices desejos, alianças.

Como toques suaves na alma, mágicos gestos a acariciar,
desenhavam-se afetos, os esquecidos, em sutis mudanças
que descompromissadamente, restituíam o gosto de amar.


Republicado - original fev.2011

sábado, 13 de abril de 2013

LANÇAMENTO - GANDAVOS CONTANDO OUTRAS HISTÓRIAS


PREFÁCIO DA COLETÂNEA GANDAVOS - CONTANDO OUTRAS HISTÓRIAS


PREFÁCIO


Não é tarefa fácil e diga-se ainda que, de extrema responsabilidade, prefaciar uma obra que reúne textos de vários autores, com suas características próprias determinadas pelos seus estilos, pelas suas crenças, ideias, pensamentos e pelas peculiaridades das diferenciadas tradições regionais, que são indubitavelmente o grande tesouro da cultura de nosso imenso país. É fascinante tomar contato com as narrativas, leituras memoráveis, de modo assim tão “íntimo” e que me possibilitam senti-las impregnando-me de tal forma, que todos os sentidos se aguçam, estabelecendo um clima de cumplicidade com cada uma delas. É também para mim, motivo de grata satisfação e orgulho, figurar ao lado de escritores tão talentosos que compuseram esta coletânea, participando com alguns textos de minha autoria, assim como a prefaciando.

As boas histórias traduzem-se na arte de transformar até mesmo um tema aparentemente irrelevante ou insosso, em uma emocionante jornada através da leitura. É exatamente o que a leitura de Gandavos – Contando outras histórias, propiciará ao leitor. Essa obra coletiva tem o condão de agregar gêneros diversos, que embora tenham características que os diferenciam quanto à forma, não a tornaram um conjunto heterogêneo. Aqui há contos, crônicas, fábulas, parábolas, lendas, relatos, que se adaptam perfeitamente a um gênero único – história – narrativa que envolve a criação de personagens reais ou fictícios e enredos, que por sua vez envolvem o leitor em um mundo imaginário que os encanta.      

Há entre as histórias deste livro, ambientadas em contextos diferentes, temas compromissados com questões sociais e humanas (a pobreza, a solidão, a simplicidade, etc), familiares, situações do cotidiano, temas de ficção, mitos, lendas, superstições e fatos reais da memória cultural e da memória afetiva, apego às raízes, tradições, entre outros. Algumas histórias são carregadas de humor ora leve, ora sarcástico, além de algumas prosas que assumem um caráter lúdico e às vezes até lírico, como se pode sentir nos textos, “Cipó de São João”, “Fonte de Sabá” e “Inha, um doce de papagaio”. Esta diversidade de abordagens dos temas, com a perspicácia ímpar de cada autor, é o que, sem dúvida, permite uma leitura agradável e envolvente.

Nos textos que abordam o saudosismo, o resgate das tradições, o apego às lembranças de pessoas, situações e lugares, às raízes, há sempre um componente que nos remete às nossas próprias reminiscências, transportando-nos aos recônditos de nossas mentes, em verdadeira interação com as histórias. É o que se pode ler em textos como: Os últimos; O relógio; A foto; Cacimba Nova; A festa de São José; O dia em que falei com o rei; Decepção (reminiscências); De Gândavos a Gandavos – muitas histórias para contar; entre tantos outros.

 Em outros textos são abordados o misticismo, as crenças, os mistérios sempre regados de um forte apelo, ora de medo, ora de humor e até mesmo em coerência com a realidade do cotidiano dos autores. Esses temas estão muito bem narrados em textos que mexem com o imaginário do leitor, em histórias que criam um ambiente de suspense, surpresa e emoção, no qual o enredo e personagens ganham vida, transportando-o ao mundo mágico da imaginação: O mistério da estrada de ferro; A mulher do vestido estampado; Quarenta e uma saudades; A mulher de branco; O defunto Nicolau; Uma vida mal assombrada; O enterro; Tamanho não é documento de valentia; Olhos negros; Memórias tristes de um casarão; são entre outros textos, contos que representam muitíssimo bem essas características. Em um tom que nos remete aos questionamentos, à reflexão, há entre as histórias, narrativas de forma alegórica, como em “Uma parábola para minhas filhas”, “Um casal bem normal” “Fantasmas”, com significados que vão do concreto ao simbólico. Na mesma linha se encontram nesta obra, crônicas do cotidiano que estabelecem, em geral, conexões coerentes entre a realidade do narrador e a do leitor.

Narrar histórias, em qualquer um desses estilos e gêneros, como as que aqui se apresentam, torna possível uma comunicação cordial entre os narradores e os leitores, ainda que subjetivamente, em um contexto que dá  aos fatos abstratos, difíceis de serem transmitidos isoladamente, uma conotação de identificação com a realidade e assim permitindo uma preciosa aproximação entre os mesmos, o que por sua vez torna a leitura dessa obra muito aprazível.

Foi através de Gandavos – contando outras histórias, que pude sentir e viver importantes e variadas emoções, ao viver profundamente tudo o que as narrativas provocaram em mim, desde a sensação de voltar à época dos antigos contadores que, ao redor do fogo, contavam histórias a uma plateia atenta, até as mais simples, como gargalhar, ou entristecer-me diante das situações criadas brilhantemente por cada autor e que certamente serão emoções que provocarão deleite em cada leitor.

Celêdian Assis de Sousa
Belo Horizonte – Minas Gerais

quinta-feira, 28 de março de 2013

RUÍNAS E RASTROS

 Foto by Jones ( ruínas dos banhos romanos, em Trier, Alemanha, 27/02/12

Dois imensos olhos,
como janelas para o infinito,
como máscaras do tempo,
traduzem atávicas emoções,
em hodiernas sensações,
de que somos frutos de uma construção,
atemporal, à semelhança de ser
o que as nossas razões,
edificaram sobre as nossas emoções,
desafiando o tempo incólume,
no qual a vida vibra em movimento.

(Por Celêdian Assis)


quinta-feira, 7 de março de 2013

DESENCONTRO

Imagem Google

Exausto, desmaia o dia

Debruça o sol no horizonte

Sem palidez, ruborizado

Crepúsculo enamorado

Relaxando-se no poente

Aguarda a chegada dela

Da lua, sua eterna amada

Enquanto o céu plúmbeo

Anuncia as gotas brilhantes

Lágrimas do pranto estelar

Espalhadas timidamente

Compadecidas, cúmplices

Escondem o rubor do sol

Que esmaece, minguante

Pois, sabem-no condenado

Da lua viver distante

sexta-feira, 1 de março de 2013

TRIBUTO A OLAVO BILAC

Imagem Google
(Por Celêdian Assis)

De tanto amar, viu e ouviu estrelas
e nas asas da poesia pôs-se a voar.
Nenhum esforço para entendê-las,
posto que, era de amor aquele olhar.

De posse da pena, na ourivesaria,
tornou palavras, gemas preciosas,
pôs-se a lapidar, criando em poesia,
as jóias raras, as mais graciosas.

Do amor, perdido ou encontrado,
o poeta criou o estilo com primazia,
voou, sonhou e realizou abnegado,
recriou esperança, em doce magia.

A um poeta, por uma poeta, inspirado,
No livro que a lia, as lágrimas rolavam.
Pôs-se a vê-la, plácida, lendo ao seu lado,
página de saudade, do quanto se amavam.

Talvez sonhasse o poeta, ao vê-la,
a musa, tal anjo com a harpa dourada,
na escadaria de ouro rumo às estrelas,
perdido de paixão, por ela inspirada.

Talvez sonhasse Bilac, um dia voar,
às estrelas, e, ouví-las falar de amor,
talhá-lo em ouro, com rubis a engastar
e na oficina da poesia eternizar seu labor.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

ESTRELA E FLOR SEREI ENQUANTO...


Serei amor esperança e sempre atenta
Enquanto persistir fogo em alta chama
Enquanto este clamor me esquenta
Serei só coração que por ti clama

Serei a flor que guarda o próprio perfume
Enquanto não o aspiras e não o sentes
Enquanto não tatear cada pétala, incólume
Serei eterna e ao apelo de outra mão, ausente

Serei estrela solitária vagando no firmamento
Enquanto não podes o meu brilho ver a luzir
Enquanto me buscas e busca teu alento
Serei luz intensa guardada para em ti refletir

Serei jardim orvalhado até que me aqueças
Enquanto flor que quieta espera os suaves toques
Enquanto estrela que pouco brilha, até que só a ti apeteça
Serei constelação desconhecida, até que me invoques

Serei flor e jardim, serei estrela e constelação
Serei o que quiseres, serei poesia, teu canto
Enquanto bater louco no peito, o meu coração
Enquanto cultivar e cuidar do meu encanto

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

BARULHOS DO SILÊNCIO


Foto by Celêdian Assis - Lua cheia da minha janela - Belo Horizonte 03/12

Hoje não ouço sons de estrelas,
nem mesmo as vejo cadentes.
Não ouso pois, percebê-las,
em seus brilhos tão silentes.

Ouço raios bruxeleantes,
da lua cheia, em cio luzidio,
com os seus ruídos exultantes,
que acordam ecos que silencio,

nas sombras surdas distantes,
de um pensamento fugidio,
em notas tão dissonantes.

Ouço da lua, seus murmúrios,
e no meu silêncio lancinante,
me aliviam os seus barulhos.


SONETO DA ESSENCIALIDADE


Foto By Jones Poa - Cais do Porto - Porto Alegre – Brasil - Nov. 2011

Dissiparam-se toda as dores,
outrora aportadas no peito,
libertam-se soberbas cores,
descansadas na paz do leito.

Na calmaria, uma paz aquiescida,
não há solidão que amedronte,
solitária quedo-me esquecida,
além dos limites do horizonte.

Atracando-me à margem, frugal,
reluto em deixar-me à deriva,
ancorando-me fundo, abissal.

Na lâmina d’água clara e calma
refletem: em eterna evocativa,
essências, que navegam n’alma.