Poemas & Poetas


Esta página contém os poemas e os poetas meus preferidos e que creio de tantos outros apaixonados pela poesia. Deliciem-se!

ESTRELAS
(Olavo Bilac)

Oras (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdestes o senso!' E eu vos direi , no entanto
Que , para ouvi-las , muita vez desperto
E abro as janelas , pálido de espanto...

E conversamos toda a noite , enquanto
A Via Láctea , como uma pálio aberto ,cintila 
E , ao vir do sol , saudoso e em pranto
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora : Tresloucado amigo !
Que conversas com ela ? Que sentido
Tem o que dizem , quando estão contigo ?

E eu vos direi : Amai para entendê-las !
Pois só quem ama pode Ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender as estrelas.

CRIAÇÃO
(Olavo Bilac)

Há no amor um momento de grandeza,
que é de inconsciência e de êxtase bendito
os dois corpos são toda a Natureza,
as duas almas são todo o Infinito.

É um mistério de força e de surpresa!
Estala o coração da terra aflito;
rasga-se em luz fecunda a esfera acesa,
e de todos os astros rompe um grito.

Deus transmite o seu hálito aos amantes:
cada beijo é a sanção dos Sete Dias,
e a Gênese fulgura em cada abraço;

Porque, entre as duas bocas soluçantes,
rola todo o Universo, em harmonias
e em florificações, enchendo o espaço!

AMANHÃ
(Gonçalves Dias)

Amanhã! - é o sol que desponta,
É a aurora de róseo fulgor,
É a pomba que passa e que estampa
Leve sombra de um lago na flor.

Amanhã! - é a folha orvalhada,
É a rola a carpir-se de dor,
É da brisa o suspiro, - é das aves
Ledo canto, - é da fonte - o frescor.

Amanhã! - são acasos da sorte;
O queixume, o prazer, o amor,
O triunfo que a vida nos doura,
Ou a morte de baço palor.

Amanhã! - é o vento que ruge,
A procela d'horrendo fragor,
É a vida no peito mirrada,
Mal soltando um alento de dor.

Amanhã! - é a folha pendida.
É a fonte sem meigo frescor,
São as aves sem canto, são bosques
Já sem folhas, e o sol sem calor.

Amanhã! - são acasos da sorte!
É a vida no seu amargor,
Amanhã! - o triunfo, ou a morte;
Amanhã! - o prazer, ou a dor!

Amanhã! - o que vale, se hoje existes!
Folga e ri de prazer e de amor;
Hoje o dia nos cabe e nos toca,
De amanhã Deus somente é Senhor!


MEU SONHO
(Cecília Meireles)

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...

Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.

Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar ?

Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

SOSSEGA
(Fernando Pessoa)

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

TE QUERO
(Pablo Neruda)

Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.

Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.

Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.

Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor,
a sangue e a fogo.

URGENTEMENTE
(Eugenio de Andrade)

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
é urgente destruir certas palavras.
odio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras

Cai o silêncio nos ombros
e a luz impura, até doer.
É urgente o amor,
é urgente permanecer.

O VENTO NA ILHA
(Pablo Neruda)

O vento é um cavalo
ouça como ele corre
pelo mar, pelo céu.
Quer levar-me: escuta
como percorre o mundo
para levar-me longe

Esconde-me em teus braços
por esta noite somente,
enquanto a chuva abre
contra o mar e a terra
suas incontáveis bocas.

Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me longe.

Com teu peito em meu peito,
com tua boca em minha boca.
nossos corpos atados
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa levar-me.

Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando nas sombras,
enquanto eu, submerso
debaixo de teus grandes olhos,
por esta noite somente
descansarei, meu amor.


TERNURA
(Vinícius de Moraes)

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

DIVINA MÚSICA
(Kahlil Gibran)

Filha da Alma e do Amor
Cálice da amargura e do Amor
Sonho do coração humano,
Fruto da tristeza
Flor da alegria, fragrância
E desabrochar dos sentimentos
Linguagem dos amantes,
Confidenciadora de segredos
Mãe das lágrimas do amor oculto
Inspiradora de poetas, de compositores
E dos grandes realizadores
Unidade de pensamento dentro dos Fragmentos das palavras
Criadora do amor que se origina da beleza
Vinho do coração
Que exulta num mundo de sonhos
Encorajadora dos guerreiros,
Fortalecedora das almas.
Oceano de perdão e mar de ternura
Ó música
Em tuas profundezas
Depositamos nossos corações e almas
Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos
E a ouvir com os corações.

SONETO 17
(William Shakespeare)


Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.


SONETO CV
(William Shakespeare)



Não chame o meu amor de Idolatria

Nem de Ídolo realce a quem eu amo,

Pois todo o meu cantar a um só se alia,

E de uma só maneira eu o proclamo.


É hoje e sempre o meu amor galante,

Inalterável, em grande excelência;

Por isso a minha rima é tão constante

A uma só coisa e exclui a diferença.


Beleza, Bem, Verdade, eis o que exprimo;

Beleza, Bem, Verdade, todo o acento;

E em tal mudança está tudo o que primo,


Em um, três temas, de amplo movimento.

Beleza, Bem, Verdade sós, outrora;

Num mesmo ser vivem juntos agora.


SONETO (desconheço o título ou número)
(Willian Shakespeare)


De almas sinceras a união sincera

Nada há que impeça: amor não é amor

Se quando encontra obstáculos se altera,

Ou se vacila ao mínimo temor.


Amor é um marco eterno, dominante,

Que encara a tempestade com bravura;

É astro que norteia a vela errante,

Cujo valor se ignora, lá na altura.


Amor não teme o tempo, muito embora

Seu alfange não poupe a mocidade;

Amor não se transforma de hora em hora,


Antes se afirma para a eternidade.

Se isso é falso, e que é falso alguém provou,

Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou