sábado, 13 de abril de 2013

LANÇAMENTO - GANDAVOS CONTANDO OUTRAS HISTÓRIAS


PREFÁCIO DA COLETÂNEA GANDAVOS - CONTANDO OUTRAS HISTÓRIAS


PREFÁCIO


Não é tarefa fácil e diga-se ainda que, de extrema responsabilidade, prefaciar uma obra que reúne textos de vários autores, com suas características próprias determinadas pelos seus estilos, pelas suas crenças, ideias, pensamentos e pelas peculiaridades das diferenciadas tradições regionais, que são indubitavelmente o grande tesouro da cultura de nosso imenso país. É fascinante tomar contato com as narrativas, leituras memoráveis, de modo assim tão “íntimo” e que me possibilitam senti-las impregnando-me de tal forma, que todos os sentidos se aguçam, estabelecendo um clima de cumplicidade com cada uma delas. É também para mim, motivo de grata satisfação e orgulho, figurar ao lado de escritores tão talentosos que compuseram esta coletânea, participando com alguns textos de minha autoria, assim como a prefaciando.

As boas histórias traduzem-se na arte de transformar até mesmo um tema aparentemente irrelevante ou insosso, em uma emocionante jornada através da leitura. É exatamente o que a leitura de Gandavos – Contando outras histórias, propiciará ao leitor. Essa obra coletiva tem o condão de agregar gêneros diversos, que embora tenham características que os diferenciam quanto à forma, não a tornaram um conjunto heterogêneo. Aqui há contos, crônicas, fábulas, parábolas, lendas, relatos, que se adaptam perfeitamente a um gênero único – história – narrativa que envolve a criação de personagens reais ou fictícios e enredos, que por sua vez envolvem o leitor em um mundo imaginário que os encanta.      

Há entre as histórias deste livro, ambientadas em contextos diferentes, temas compromissados com questões sociais e humanas (a pobreza, a solidão, a simplicidade, etc), familiares, situações do cotidiano, temas de ficção, mitos, lendas, superstições e fatos reais da memória cultural e da memória afetiva, apego às raízes, tradições, entre outros. Algumas histórias são carregadas de humor ora leve, ora sarcástico, além de algumas prosas que assumem um caráter lúdico e às vezes até lírico, como se pode sentir nos textos, “Cipó de São João”, “Fonte de Sabá” e “Inha, um doce de papagaio”. Esta diversidade de abordagens dos temas, com a perspicácia ímpar de cada autor, é o que, sem dúvida, permite uma leitura agradável e envolvente.

Nos textos que abordam o saudosismo, o resgate das tradições, o apego às lembranças de pessoas, situações e lugares, às raízes, há sempre um componente que nos remete às nossas próprias reminiscências, transportando-nos aos recônditos de nossas mentes, em verdadeira interação com as histórias. É o que se pode ler em textos como: Os últimos; O relógio; A foto; Cacimba Nova; A festa de São José; O dia em que falei com o rei; Decepção (reminiscências); De Gândavos a Gandavos – muitas histórias para contar; entre tantos outros.

 Em outros textos são abordados o misticismo, as crenças, os mistérios sempre regados de um forte apelo, ora de medo, ora de humor e até mesmo em coerência com a realidade do cotidiano dos autores. Esses temas estão muito bem narrados em textos que mexem com o imaginário do leitor, em histórias que criam um ambiente de suspense, surpresa e emoção, no qual o enredo e personagens ganham vida, transportando-o ao mundo mágico da imaginação: O mistério da estrada de ferro; A mulher do vestido estampado; Quarenta e uma saudades; A mulher de branco; O defunto Nicolau; Uma vida mal assombrada; O enterro; Tamanho não é documento de valentia; Olhos negros; Memórias tristes de um casarão; são entre outros textos, contos que representam muitíssimo bem essas características. Em um tom que nos remete aos questionamentos, à reflexão, há entre as histórias, narrativas de forma alegórica, como em “Uma parábola para minhas filhas”, “Um casal bem normal” “Fantasmas”, com significados que vão do concreto ao simbólico. Na mesma linha se encontram nesta obra, crônicas do cotidiano que estabelecem, em geral, conexões coerentes entre a realidade do narrador e a do leitor.

Narrar histórias, em qualquer um desses estilos e gêneros, como as que aqui se apresentam, torna possível uma comunicação cordial entre os narradores e os leitores, ainda que subjetivamente, em um contexto que dá  aos fatos abstratos, difíceis de serem transmitidos isoladamente, uma conotação de identificação com a realidade e assim permitindo uma preciosa aproximação entre os mesmos, o que por sua vez torna a leitura dessa obra muito aprazível.

Foi através de Gandavos – contando outras histórias, que pude sentir e viver importantes e variadas emoções, ao viver profundamente tudo o que as narrativas provocaram em mim, desde a sensação de voltar à época dos antigos contadores que, ao redor do fogo, contavam histórias a uma plateia atenta, até as mais simples, como gargalhar, ou entristecer-me diante das situações criadas brilhantemente por cada autor e que certamente serão emoções que provocarão deleite em cada leitor.

Celêdian Assis de Sousa
Belo Horizonte – Minas Gerais