quarta-feira, 19 de março de 2014

RELEASE DA OBRA NEUSINHA BRIZOLA SEM MINTCHURA

RELEASE 
NEUSINHA BRIZOLA SEM MINTCHURA
Por CELÊDIAN ASSIS DE SOUSA
Revisora da obra pela Interface Olympus Editora - BH/MG

A Interface Olympus apresenta em uma primorosa edição, a obra Neusinha Brizola sem Mintchura, biografia de Neusinha Brizola, autorizada pelos seus filhos, Layla e Paulo César, idealizada a partir do encontro dos autores Fábio Fabrício Fabretti e Lucas Nobre com a mesma, na década de 80 e segundo Fábio, “Foi nosso grande encontro, naquela tarde de sol e de Neusinha...”. Uma história de uma vida curta (56 anos apenas), mas muito conturbada, recheada com o espírito livre e contestador da polêmica e irreverente Neusinha, que não se acanhava de dizer “Eu adoro um escândalo e daí?”

Alguns fatos eram de conhecimento público, alardeados pela mídia da época, mas não como são revelados nessa obra, com riqueza de detalhes reais e inéditos, em surpreendente relato íntimo, das experiências vividas por ela nos bastidores da política, em sua história pessoal de amores e dissabores. São depoimentos estarrecedores, inusitados, recolhidos pelos autores, diretamente de Neusinha, que lhes revelou, natural e minuciosamente, as mais “Escandalosas confissões da mais polêmica filha de um governador, que chocaram o Brasil”, quem desde a infância já se anunciava travessa, “Eu me esbaldava nas viagens que fazíamos pelo Brasil, em campanhas. Eram como férias. Ainda guardo na memória a imagem do meu pai alto e sério, gesticulando imperialmente no palanque. E minha mãe, esguia e sorridente, acompanhando-o. Eu, abobalhada, cumpria o meu papel da filha fofinha, sem sonhar que me transformaria um dia no terror da família!”. Em outra passagem quando estudava em um internato na Inglaterra ela conta que: “Na escola, criança, eu levantava a saia na frente dos meninos, para mostrar que era diferente deles. Também fazia isso diante das professoras, para ver a cara de horror delas.” Em certo momento de sua vida, já madura, reconhece que, “Não penso no futuro, mas também não sofro pelo passado, só conto com o presente, sem arrependimentos. Tudo o que vivi me tornou o que sou hoje.”

A obra conta ainda com fotos autênticas e uma gama de depoimentos de familiares, amigos, muitos artistas, políticos, entre outros que conviveram com ela, que revelam uma Neusinha desconhecida de muitos, uma personalidade única e controversa pela aparente rebeldia. Sobre o seu envolvimento com drogas, iniciado aos 14 anos de idade, confidenciou ao autor naquele que foi o último encontro entre eles: “Queria que esse livro fosse um alerta sobre o que as drogas podem fazer. E brincou: Mas ninguém está preocupado com o que uma velha tem a dizer, não é?”

Sobre suas aventuras durante o exílio da família no Uruguai, disse: “Nossa fuga para o exílio foi uma metamorfose que deixou marcas e traumas. Entretanto, estivemos mais unidos do que nunca. Se o nosso país não nos queria, o exílio uniu ainda mais nossa família.”, a prisão aos 15 anos de idade, entre outras loucuras, além de um ensaio para a Revista Playboy, cuja publicação foi suspensa por Brizola, o seu casamento em um terminal rodoviário, celebrado por Paulo Coelho, a carreira de cantora e sucesso com sua música Mintchura, entre outras passagens, aguçam a curiosidade e impressionam o leitor por sua intensa trajetória, seja no contexto pessoal, seja no aspecto cultural, ou da história contemporânea do Brasil.

Neusa Maria Goulart Brizola, comportava em seu nome e por si, um elo de sua própria história, com aquela vivenciada em cenários e momentos cruciais da história do país a partir da década de 50, com inúmeras referências ao seu pai: “Meu pai (...) filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, onde revelou sua afinidade pela luta social. Casou-se, lá pelos anos 50, com a irmã do futuro presidente João Goulart, meu amado tio Jango. E foi aí que tudo começou.”  “Meu pai é a própria história viva deste país e outros da América Latina, que fizeram parte de sua trajetória, como tio Getúlio Vargas, tio Jango, Fidel, Allende, Marechal Henrique Teixeira Lott, Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek, Juan Domingo Perón, Che Guevara e até Frida Kahlo.” Neusinha se referia ao pai, Leonel Brizola, com muita admiração, mesmo que tenha provocado inúmeras confusões, que muitas vezes acabavam por denegrir a sua imagem de político: “Vivemos um passado sofrido, que nos politizou e nos fez acompanhar todos os seus passos. Ele mantinha o jogo aberto conosco e nos deixou exemplos maravilhosos.” E para honrar o seu nome, após a sua morte, enveredou-se na política, candidatando-se à deputada e sofrendo por isso grande decepção, principalmente com o partido que seu pai fundara, ao que ela depois, já aliviada pelo seu fracasso nas urnas, dizia: “ Nunca quis ser o ópio dos burgueses. Preferiria ser a champanha do povo.”

Por fim, a doença que a consumia, valendo-lhe amnésias temporárias, o carinho e atenção dos filhos e netos, a fez refletir sobre a sua trajetória de vida desregrada, “A questão é que precisei maltratar o meu corpo o suficiente para chegar à alguma lucidez e aprendizagem. Eu escolhi todos os meus caminhos e os trilhei até o fim. Se pago o preço por isso hoje, é inevitável.” E nada melhor para dizer do que a leitura da biografia de Neusinha pode provocar em seus leitores, do que as próprias palavras dela quando já estava próxima a sua morte: “Então vou morrer contrariando a vida. E mesmo depois de partir, vou continuar dando trabalho e causar meu último escândalo, deixando um livro que vai falar e ficar por mim, sem mintchura!”