PREFÁCIO
Não é tarefa fácil e diga-se ainda que, de extrema
responsabilidade, prefaciar uma obra que reúne textos de vários autores, com
suas características próprias determinadas pelos seus estilos, pelas suas
crenças, ideias, pensamentos e pelas peculiaridades das diferenciadas tradições
regionais, que são indubitavelmente o grande tesouro da cultura de nosso imenso
país. É fascinante tomar contato com as narrativas, leituras memoráveis, de
modo assim tão “íntimo” e que me possibilitam senti-las impregnando-me de tal
forma, que todos os sentidos se aguçam, estabelecendo um clima de cumplicidade
com cada uma delas. É também para mim, motivo de grata satisfação e orgulho,
figurar ao lado de escritores tão talentosos que compuseram esta coletânea, participando
com alguns textos de minha autoria, assim como a prefaciando.
As boas histórias traduzem-se na arte de transformar
até mesmo um tema aparentemente irrelevante ou insosso, em uma emocionante
jornada através da leitura. É exatamente o que a leitura de Gandavos – Contando
outras histórias, propiciará ao leitor. Essa obra coletiva tem o condão de
agregar gêneros diversos, que embora tenham características que os diferenciam
quanto à forma, não a tornaram um conjunto heterogêneo. Aqui há contos,
crônicas, fábulas, parábolas, lendas, relatos, que se adaptam perfeitamente a
um gênero único – história – narrativa que envolve a criação de personagens
reais ou fictícios e enredos, que por sua vez envolvem o leitor em um mundo
imaginário que os encanta.
Há entre as histórias deste livro, ambientadas em
contextos diferentes, temas compromissados com questões sociais e humanas (a
pobreza, a solidão, a simplicidade, etc), familiares, situações do cotidiano, temas
de ficção, mitos, lendas, superstições e fatos reais da memória cultural e da memória
afetiva, apego às raízes, tradições, entre outros. Algumas histórias são
carregadas de humor ora leve, ora sarcástico, além de algumas prosas que
assumem um caráter lúdico e às vezes até lírico, como se pode sentir nos textos,
“Cipó de São João”, “Fonte de Sabá” e “Inha, um doce de papagaio”. Esta
diversidade de abordagens dos temas, com a perspicácia ímpar de cada autor, é o
que, sem dúvida, permite uma leitura agradável e envolvente.
Nos textos que abordam o saudosismo, o resgate das tradições,
o apego às lembranças de pessoas, situações e lugares, às raízes, há sempre um
componente que nos remete às nossas próprias reminiscências, transportando-nos
aos recônditos de nossas mentes, em verdadeira interação com as histórias. É o
que se pode ler em textos como: Os últimos; O relógio; A foto; Cacimba Nova; A
festa de São José; O dia em que falei com o rei; Decepção (reminiscências); De
Gândavos a Gandavos – muitas histórias para contar; entre tantos outros.
Em outros textos
são abordados o misticismo, as crenças, os mistérios sempre regados de um forte
apelo, ora de medo, ora de humor e até mesmo em coerência com a realidade do
cotidiano dos autores. Esses temas estão muito bem narrados em textos que mexem
com o imaginário do leitor, em histórias que criam um ambiente de suspense,
surpresa e emoção, no qual o enredo e personagens ganham vida, transportando-o
ao mundo mágico da imaginação: O mistério da estrada de ferro; A mulher do
vestido estampado; Quarenta e uma saudades; A mulher de branco; O defunto
Nicolau; Uma vida mal assombrada; O enterro; Tamanho não é documento de
valentia; Olhos negros; Memórias tristes de um casarão; são entre outros
textos, contos que representam muitíssimo bem essas características. Em um tom
que nos remete aos questionamentos, à reflexão, há entre as histórias,
narrativas de forma alegórica, como em “Uma parábola para minhas filhas”, “Um
casal bem normal” “Fantasmas”, com significados que vão do concreto ao
simbólico. Na mesma linha se encontram nesta obra, crônicas do cotidiano que
estabelecem, em geral, conexões coerentes entre a realidade do narrador e a do
leitor.
Narrar histórias, em qualquer um desses estilos e
gêneros, como as que aqui se apresentam, torna possível uma comunicação cordial
entre os narradores e os leitores, ainda que subjetivamente, em um contexto que
dá aos fatos abstratos, difíceis de
serem transmitidos isoladamente, uma conotação de identificação com a realidade
e assim permitindo uma preciosa aproximação entre os mesmos, o que por sua vez
torna a leitura dessa obra muito aprazível.
Foi através de Gandavos – contando outras histórias,
que pude sentir e viver importantes e variadas emoções, ao viver profundamente
tudo o que as narrativas provocaram em mim, desde a sensação de voltar à época
dos antigos contadores que, ao redor do fogo, contavam histórias a uma plateia
atenta, até as mais simples, como gargalhar, ou entristecer-me diante das
situações criadas brilhantemente por cada autor e que certamente serão emoções
que provocarão deleite em cada leitor.
Celêdian Assis de Sousa
Belo Horizonte – Minas
Gerais
Celêdian, esse prefácio me convenceu! Fiquei curiosos em ler essas histórias e estórias desses autores. Saber o que têm a dizer. Fazer parte dessas ficções e não-ficções. Por favor, via e-mail, escreva o n° da conta na qual será efetuado o depósito para a aquisição desses dois exemplares de "Contadores de Histórias". Gandavos. Não consegui fazer a leitura adequada do que tenho de fazer, em que conta depositar de modo a tê-los em casa via Correios. Estou curioso, principalmente para ler sua participação nessas antologias. 1 Abraço c/carinho.
ResponderExcluirDecio Goodnews