segunda-feira, 28 de março de 2011

RETROALIMENTAÇÃO

Planta que sobrevive à seca, às custas de seus reservatórios de água e sais - Piracema -03/11 - Foto by Celêdian

Na página alva e viva

Derramo cristais

Que escorrem dos olhos

Em vã tentativa

De torná-la brilhante

Quebrando angústias

Tento borrá-la

Com versos azuis

Mesmo dispersos

Sejam impressos

Como mata borrão

Que suga palavras

Da alma inquieta

Sem inspiração.


Na página branca

Rolam e em fuga

Espatifam-se no chão

Rompem-se vértices

Das lágrimas de cristais

Sorvidas pelo solo

Tornam-se seiva dos sais

Realimentam o poeta

Que faz brotar em poesia

A remição de seus ais

terça-feira, 15 de março de 2011

SOB OUTRA ÓTICA

Pintura Espelho falso "as cores não exatamente as do céu, estão em nossos olhos" - Magritte


Dois lados, o lado de lá, o lado de cá.
Entremeio uma superfície fria a separar.
A luz numa reflexão natural e regular,
projeta-se na pele nua que lá está.

No princípio parecia imagem especular,
das raias da imaginação em pura magia.
Côncavo e convexo abraçados em poesia,
numa imagem real, raios a se encontrar.

Prolongaram-se os raios e refletidos,
convergiram para uma doce paixão,
tal espelho plano, a deliciosa revelação,
pelas virtuais imagens, enlouquecidos.

Por vezes turvaram-se os olhos distantes,
num lusco fusco, de tal emoção tomados
e sem cadência, como versos desritmados,
declamados ais, em suspiros extasiantes.

Espelho duplo, como se espreitassem
de lá e de cá, como se vidro fosse,
translúcido e como se poros tivesse,
por onde seus perfumes exalassem

E foram tantos cheiros, até as cores,
na projeção de tantos beijos loucos,
dos lábios rubros, sussurros roucos,
espelhados nos mais reais sabores.

sexta-feira, 11 de março de 2011

DIVÃ

Paisagem que me inspira em Piracema - 03/11


Pacientemente, a poesia,


ouve lamúrias atenta,


capta também alegria,


tudo que a alma ostenta


e o poeta lhe confidencia.


Das lembranças que sustenta,


dele, o vivo coração,


vibram em perfeita sintonia,


a dor que a alma lamenta


e o calor de louca paixão,


soando nos versos, tal sinfonia,


a essência e poder da criação.

quarta-feira, 2 de março de 2011

INDOMÁVEL


Governado pela rainha, no seu reino de magia
Irrequieto o coração, em tão cega obediência
Submete-se súdito, aos caprichos da fantasia
Cede aos desmandos, com clara subserviência

Beija-lhe mãos e pés, curvando-se diante dela
Sôfrego e hesitante, ele, rende-lhe reverência
Com olhar penetrante, seu amor que se revela
Ela, imponente, assedia-o, simulando carência

Seduzidos os sentidos, é feitiço que o intima
O súdito embevecido, pela sua musa, suspira
Sucumbe aos apelos, da rainha que o domina

Realidade ou quimera, amor, tristeza, alegria
No reino da inspiração, o súdito é só o poeta
-Refém da rainha indomável, a própria poesia