sexta-feira, 24 de junho de 2011

RETRATO DAS METADES DA ALMA (Republicado sob novo título)

Foto de Celêdian, por Douglas Assis - dez.2010


Como espectro se desenham
Sombras frias entranhadas
Da meia luz que ilumina
Metade de um lado obscuro
E na outra clara metade
Brilho que às vezes ofusca
Ou ilumina o melhor de mim

Imagens projetam idéias
Pensamentos refratam ações
Espelham íntimas ânsias
Em devaneios e reflexões
São ondas que perpassam
Confusos feixes de raios
Distorcem imagens
Na parte opaca de mim

Na outra iluminada metade
A luz se propaga em ondas
Para abissais labirintos
Via das minhas entranhas
Abstrato, ninho subjetivo
Abjuro o abjeto abismo
Redundante instropecto
Deste agônico solilóquio

Resgato-me na superfície
Na ruptura da interna rusga
Desenham outros espectros
Do concreto que me acerca
No objeto inacessível
Do circunlóquio que fiz.

terça-feira, 14 de junho de 2011

BRUMAS E SONHOS

Montanhas de Piracema - maio de 2011 - Foto por Celêdian



Envolta em névoa espessa,
esconde-se uma montanha,
de verde pálido, do frio
na agonia final do outono.
Coberta de bruma, qual manta
cruel e contraditoriamente,
como barreira cinzenta
para impedir o gélido ar,
que ao cerne quer adentrar.

Queria ter asas de penas,
coladas com cera de abelhas,
como Dédalo deu a Ícaro.
Queria planar sobre a névoa,
soprar-lhe um hálito quente,
dispersar-lhe, artimanhas
para que raios de sol beijem
intensa e calorosamente,
superfície e entranhas.

Minhas asas coladas com cera
derreteriam ao calor do sol
e eu quedaria contente
na alfombra verdejante,
sem imitar passarinho,
com minh’alma de gente,
que faz poesia dos sonhos
e nela feliz me aninho.