domingo, 4 de dezembro de 2011

VOOS E VOZES

Fotografia by Joel Gomes - Irati - PR - Brasil

VOOS E VOZES

Sopra uma aragem

e em pousos acidentais

balouçam segredos,

pensamentos triviais

suscitam desejos,

de voo longínquo

e outros bafejos,

de ser ubíquo,

em sonhos alados,

voar e pousar,

rompendo o vento

e significados

da voz das coisas.

Celêdian Assis - 21/11/11


domingo, 20 de novembro de 2011

TÚNEL

Foto acidental por Celêdian Assis - Piracema 09/11

Hoje acordei assim:

Taciturna,

Sorumbática,

Macambúzia.

Sensação estranha

de falibilidade,

inércia,

não presumida,

nem consentida.

Listei na memória,

livros e textos que não li,

amigos que não revi,

poesias que não escrevi,

impressões que não troquei,

amores que não senti,

coisas que não conclui,

tanto que não aprendi,

na vida que já vivi.

É como se me perdesse

no labirinto de mim,

de um tempo túnel,

espiralizado e no fundo,

concêntrica(mente),

me encontro estranhamente

só com a presença de mim.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

TATUAGEM

Foto por Celêdian Assis - Jardins da PUC em Contagem - MG - outubro de 2011

Ali no velho tronco,

uma pele surrada

de sol, luz e calor,

de chuva, seiva

de vento, idas e vindas

do tempo, sobrevivente,

imitando casca de gente

que o tempo tatuou

e resistente, guarda

no tronco erguido

marcas de um seio

que alimenta a vida.

Celêdian Assis - 13/10/11

sábado, 5 de novembro de 2011

POSSIBILIDADES (poema 5)

Foto by Jones Poa - Porto Alegre - RS

TEMP(O)RALIDADE e ABSTRAÇÕES

Série de poemetos meus inspirados na obra de Jones A. dos Santos, psicólogo, psicoterapeuta e segundo palavras dele, experimentador das artes ( escultura, pintura, escrita e fotografia ), Porto Alegre - RS – Brasil. http://ensaiosjones.blogspot.com/ e http://jonespoa.blogspot.com

POSSIBILIDADES

Já descorada, debruçou exausta,

ignorou o verde à sua volta,

sabe que será húmus,

depois de fartar-se da seiva,

que outrora encontrou bruta,

planeja juntar-se às outras,

para elaborar outras vidas.

Os homens?

Não podem adubar o chão,

quando finda a vida,

apenas podem deixar sementes,

se férteis ou não,

depende se suas sábias escolhas.

Celêdian Assis

03/10/11

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

NATURAL(IDADE) (poema 4)

Do álbum de fotos de Jones Poa- RS

TEMP(O)RALIDADE e ABSTRAÇÕES

Série de poemetos meus inspirados na obra de Jones A. dos Santos, psicólogo, psicoterapeuta e segundo palavras dele, experimentador das artes ( escultura, pintura, escrita e fotografia ), Porto Alegre - RS – Brasil. http://ensaiosjones.blogspot.com/ e http://jonespoa.blogspot.com

NATURAL(IDADE)

Tempo, intempéries

metamorfose

contraste de vida verde

e rugas enegrecidas

pintas, nevos, sardas

superficialmente marcada

ainda guarda, um tom dourado

tal como peles surradas de gente

os brilhos únicos da senescência


Por Celêdian Assis - 03/10/11

domingo, 23 de outubro de 2011

ABRAÇO (Poema 3)

Aquarela "Abraço" do artista Jones Poa - RS

TEMP(O)RALIDADE e ABSTRAÇÕES

Série de poemetos meus, inspirados na obra de Jones A. dos Santos, psicólogo, psicoterapeuta e segundo palavras dele, experimentador das artes ( escultura, pintura, escrita e fotografia ), Porto Alegre - RS – Brasil. http://ensaiosjones.blogspot.com/ e http://jonespoa.blogspot.com

ABRAÇO

Aninhadas as formas,

contornos aconchegados,

no olho mágico,

de olhar terno,

vislumbro afetos,

nas nuances suaves,

da carícia de um abraço


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

ANOITECER NO LAGO (Poema 2)

Anoitecer no lago - fotografia do álbum de Jones Poa

TEMP(O)RALIDADE) e ABSTRAÇÕES

Série de poemetos inspirados na obra de Jones A. dos Santos, psicólogo, psicoterapeuta e segundo palavras dele, experimentador das artes ( escultura, pintura, escrita e fotografia ), Porto Alegre - RS – Brasil. http://ensaiosjones.blogspot.com/ e http://jonespoa.blogspot.com

ANOITECER NO LAGO

Pairam na lâmina d'água,

cisnes, reflexos e cores,

espelhando a leveza,

do dia que definha langue,

exaurindo os últimos fios dourados,

legando à noite, lugar,

para que ela ainda tímida,

lance os primeiros fios de prata

e aos olhos do homem,

restitua a paz, harmonia,

que se refratam na alma.

por Celêdian Assis, quinta, 29 de setembro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

FLORES MORTAS CHEIAS DE VIDA (Poema 1)

Fotografia de Jones Poa - flores de jacarandá espalhadas pelo vento nas calçadas de Porto Alegre – RS - Brasil

TEMPO(ORALIDADE) e ABSTRAÇÕES

Série de poemas inspirados na obra de Jones A. dos Santos, psicólogo, psicoterapeuta e segundo palavras dele, experimentador das artes ( escultura, pintura, escrita e fotografia ), Porto Alegre - RS – Brasil. http://ensaiosjones.blogspot.com/ e http://jonespoa.blogspot.com

Ao amigo Jones Poa, o meu agradecimento por disponibilizar seu belíssimo acervo de fotografias e aquarelas, que traz em cada uma delas a manifestação da vida, nas suas mais inusitadas formas. Obrigada meu amigo Jones.

FLORES MORTAS CHEIAS DE VIDA

As flores de jacarandá,

como que desmaiadas na calçada,

atapetando-a e indefesas,

sustentando apenas a própria leveza,

deixam-se levar ao sabor do vento,

para exalar seus perfumes,

pintando de suaves cores,

caminhos por onde,

olhares sutis desfilam

e inebriados todos os sentidos,

extasiam-se pela beleza,

das já mortas flores,

que ainda assim insistem,

em dar vida às nossas emoções.

(por Celêdian Assis)

sexta, 16 de setembro de 2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

APRESENTAÇÃO DO LIVRO ARDENTIA




APRESENTAÇÃO

A obra Ardentia é do começo ao fim um convite à elevação do pensamento ao mais alvissareiro caminho, o qual pode nos conduzir à consciência de sermos e estarmos inseridos no mundo, com o único objetivo de sermos felizes, encontrando a harmonia entre nós e o meio. O poeta Claudio Santos, tem a característica marcante de manter o altruísmo em uma linha constante, enlevando os sentimentos e envolvendo o leitor com o seu contagiante positivismo. Traz em seu estilo inusitado, a peculiaridade de produzir sonoridade, intensidade, arrebatamento, traduzindo-se palavras e versos em mais pura emoção. A sua obra é também a representação de sua trajetória na vida, experiências vividas, sonhos, desejos, anseios, que se concretizam com a superação, na alegria de “Ter morrido homem e renascido poeta...“.

Já no início em, Vá com Deus, percebe-se a sua firmeza e as suas certezas, que vão se fortalecendo a cada poema. Na exaltação da poesia como o pilar de sustentação de suas emoções, deixa extravasar da alma o alimento que dá a si próprio e com o qual se sustenta, “Só consigo entender a vida, através da inconfundível melodia, da poesia!” e que igualmente serve de alimento ao seu leitor, “Todo o meu ser pulsa essa meta: servir de seta, para quem na vida resolveu se voltar para a subida”. Inspira-se na simplicidade das coisas, na magnitude da natureza, na intimidade da alma e faz de cada verso um canto, que brota naturalmente das suas convicções, “Em algum momento, a mente desembaça...O sol interior volta a falar mais alto...”. Emociona-se e emociona-nos grandemente, com calma prega esperança, “Simples assim, não existe fim, apenas, transformação!” Com tranquilidade, demonstra confiança no seu caminhar rumo ao seu alvo maior, o de compartilhar o positivo, o construtivo, o evolutivo, “Meu sonho é abrangente. Abraça toda a gente...”. Sabe que metamorfoseando sempre, nasce, cresce, morre, renasce e se agiganta. Com a mesma firmeza e lucidez grita a injustiça, repreende a insensatez, “Sem os, absurdamente badalados, vilões, sem, os malfadados grilhões, o mundo será melhor!”. Sem perder de vista a sua espontaneidade, fala de suas paixões com naturalidade, “A paixão, deixa-nos mais pulsantes, mais vivos, em múltiplos sentidos”. Com a percepção dos sentidos apurada para a criação, vê maravilhado e transforma em poesia, o nascer de um dia especial na beleza das flores, na simplicidade das atitudes dos animais, na magia celestial, no brilho das manhãs douradas de sol, e como a um jardineiro, planta, aduba, rega e cuida do que lhe é caro na vida, o sabor de sentir e passar emoção.

E é assim que a leitura do livro de Cláudio Poeta, que nasceu de seu dom natural para a poesia, nos transporta à emoção, “ Esbanjando harmonia, dentro de sua sinfonia, plena de ardentia!

Diante de tão vasta criação poética, arremato com toda a minha admiração, que o leitor certamente encontrará na oportunidade de ler, Ardentia, o prazer inenarrável de desfrutar de momentos ímpares de deleite com a autêntica poesia.

Honrada e emocionada, agradeço pela oportunidade de apresentar tão bela obra.

Celêdian Assis de Sousa



Para adquirir o livro clique em: http://perse.doneit.com.br/Paginas/DetalhesLivro.aspx?ItemID=754

domingo, 4 de setembro de 2011

POETAMIGO

Hortênsias - Piracema 2011 - Foto por Celêdian

Compor um soneto para um exímio poeta,
requer destreza e extrema habilidade,
hoje, os versos exatos não são minha meta,
são apenas mimos, para o amigo de verdade.

Do poeta, conheço sua postura correta.
Do amigo, a alma bela, amabilidade.
Ora! Como agraciar a parte mais dileta,
se, fundem-se na mais perfeita unicidade?

Quisera eu saber das notas musicais,
em afinado tom compor-lhe uma ode
e declamar-lhe alto, como nos recitais,

a alegria de sentir a vida que em ti eclode,
no que setembro trouxe em distintos rituais,
ares primaveris e a gênese de grande dote.




Nota: uma homenagem ao meu querido amigo André Bessa, pela passagem de seu aniversário.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

POESIA NA PAISAGEM DO TEMPO

Foto por Celêdian - Inverno no cerrado - Piracema - agosto 2011

Agosto chega anunciando a contragosto,
uma seca abrupta que todo o verde recolhe
e encerrando no cerrado, um certo desgosto,
de um certo rastro de vida que se encolhe.

O galho ressentido ainda guarda o gosto,
do outono, (das folhas que surrupiou-lhe
o inverno), mas resistindo bravo ao agosto.
E a poesia mesmo cega, um olhar lançou-lhe,

através dos olhos vivos e ávidos do poeta,
por colher de cada galho seco e tosco,
a vida daquela imagem tão real e concreta,

camuflada, projetava-se no tom fosco,
sobretudo, parecia minh’alma quieta,
sem aridez , com a vida retomando seu posto.

domingo, 17 de julho de 2011

ENTRE VIDA E POESIA

Entre brilhos diáfanos das sombras,
mesmo na suposta opacidade delas,
que escondem as agruras do cotidiano,
aos olhos do poeta, no limite do homem
desenham-se palavras entre espaços,
na linguagem feita de suas escolhas,
em pequenos atos, gestos de ternura,
sem melancolia pelos silêncios e ecos,
mas aguçados pela consciência deles,
ouvidos apenas num ponto imaginário,
num cume, no qual se almeja, ver ao longe,
além de outros pontos, a real coexistência
de lugares e momentos, mágicos e únicos,
onde as sombras falem do sol dos caminhos
e os ventos livres soprem as aragens mornas,
como carícias leves, sussurros de brisa cálida,
esboçando sons tão sutis e ainda dispersos,
onde se supõe, tudo se renova e se apagam
os reticentes pontos de uma vaga existência,
das linhas frias que o destino vai traçando,
deixando entrever caminhos que seguem adiante,
que ora se entrecortam, ora desviam-se os rumos
e ainda que sejam linhas sulcadas na palma clara,
são vias, esses percursos sempre surpreendentes
sabiamente, revelados pelo destino, passo a passo,
que apenas com simplic(idade) e matur(idade)
sagac(idade), seren(idade) e sensibilid(idade)
desvenda-se no poeta, os olhos do homem
quando ele vive a sua maior luminos(Idade).

Nota: esta prosa poética é uma miscelânea da leitura que fiz de poemas do poeta Henrique Mendes (http://etletera.blogspot.com)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

RETRATO DAS METADES DA ALMA (Republicado sob novo título)

Foto de Celêdian, por Douglas Assis - dez.2010


Como espectro se desenham
Sombras frias entranhadas
Da meia luz que ilumina
Metade de um lado obscuro
E na outra clara metade
Brilho que às vezes ofusca
Ou ilumina o melhor de mim

Imagens projetam idéias
Pensamentos refratam ações
Espelham íntimas ânsias
Em devaneios e reflexões
São ondas que perpassam
Confusos feixes de raios
Distorcem imagens
Na parte opaca de mim

Na outra iluminada metade
A luz se propaga em ondas
Para abissais labirintos
Via das minhas entranhas
Abstrato, ninho subjetivo
Abjuro o abjeto abismo
Redundante instropecto
Deste agônico solilóquio

Resgato-me na superfície
Na ruptura da interna rusga
Desenham outros espectros
Do concreto que me acerca
No objeto inacessível
Do circunlóquio que fiz.

terça-feira, 14 de junho de 2011

BRUMAS E SONHOS

Montanhas de Piracema - maio de 2011 - Foto por Celêdian



Envolta em névoa espessa,
esconde-se uma montanha,
de verde pálido, do frio
na agonia final do outono.
Coberta de bruma, qual manta
cruel e contraditoriamente,
como barreira cinzenta
para impedir o gélido ar,
que ao cerne quer adentrar.

Queria ter asas de penas,
coladas com cera de abelhas,
como Dédalo deu a Ícaro.
Queria planar sobre a névoa,
soprar-lhe um hálito quente,
dispersar-lhe, artimanhas
para que raios de sol beijem
intensa e calorosamente,
superfície e entranhas.

Minhas asas coladas com cera
derreteriam ao calor do sol
e eu quedaria contente
na alfombra verdejante,
sem imitar passarinho,
com minh’alma de gente,
que faz poesia dos sonhos
e nela feliz me aninho.

domingo, 29 de maio de 2011

SIMPLICIDADE E PERFEIÇÃO

Acordo, preguiça domingueira,
abro a velha janela de madeira,
deixo adentrar a luz do sol,
desta manhã fria outonal.
Ignorando a estação,
surpreendentemente florida,
a goiabeira no quintal.


Piracema, maio de 2010, fotos por Celêdian


Não bastasse esta visão,
pousado no galho, garboso,
um negro e belo tucano,
de bico colorido sem igual.
Olhou-me inquieto,
alçou um rápido voo,
para o verde bambuzal,
coberto de azul céu.
Longe vigia a montanha,
a simplicidade na mistura,
das cores da liberdade,
beleza tão natural.

Sorrindo, feliz eu penso,

a vida é a arte da perfeição.

terça-feira, 24 de maio de 2011

UM PRESENTE INESTIMÁVEL

POETA, FILHA DAS GERAIS
(dedicado à Celêdian Assis)

Erguem-se montanhas
Nos verdes dos teus versos
Erguem-se paisagens matinais
E também noturnas
De estrelas
De madrigais
E da luz natural as farturas
Iluminando o comboio da poesia
Ó, poeta, filha das Gerais
Mulher e poeta em um só corpo poético
Em tudo imagético
Magnético
Poeta de verdes, amarelos e anis
De loiras bandeiras do teu país
Versos desfraldados correm os campos gerais
De lado a lado
Cobertos da rendada neblina
Filó de babado de vestidos de menina
Teus olhos correm além dos cumes
Teus olhos feitos
De ternura e doces ciúmes
Ciúmes das estrofes que são tuas
Correndo pelos campos de flores
Inteiramente nuas
Na cor da pele
Na tez levemente morena
No cheiro das açucenas
E no vento brincando em tuas faces
És poeta maior
Não disfarces
Toma teu poema
Cobre com ele o teu dilema
Poeta de dimensões incalculáveis
Poeta dos imagináveis
E dos inimagináveis
Poeta cujo sublime canto
É feito só de ouro e prata
De pedras preciosas
Do mais caro diamante
Poeta que mina das minas a mais inflamada poesia
Poeta feita de amor
De encanto e de magia

Tânia Meneses
Publicado no Recanto das Letras em 21/07/2010
Código do texto: T2390207
http://www.recantodasletras.com.br/autores/taniamcmeneses

Meu agradecimento: Tânia, minha estimada amiga e poeta de primeira grandeza, aqui me posto beijando as suas mãos carinhosa e agradecidamente, honrada e emocionadamente, por esta poesia que nasceu de uma gestação sobre a sua leitura, muito mais do que meus textos, da minha alma, da minha essência. Você colocou lindamente, a menina, a mulher e a poeta que existem em mim, a minha origem simples de gente que veio do interior, das montanhas de Minas, o meu chão, o meu lar e de onde surgiu o meu olhar de simplicidade para as pessoas e as coisas que me rodeiam. De onde nasceu o meu amor pela poesia e que fizeram deste amor, a minha realização hoje, pois hoje vivo da intensidade das minhas emoções, vividas entre outras coisas, pela felicidade de estar rodeada de gente da mais fina casta de poetas e ainda poder desfrutar-lhes da amizade sincera. Você , Taninha, eu ostento orgulhosamente, como troféu desta amizade, desta conquista que torna meus dias indubitavelmente melhores. Quanto a poeta Tânia Menezes, só posso traduzi-la em poucas palavras, você é a própria poesia. São como partes inseparáveis, interdependentes e como tal, desta relação só poderia nascer a excelência. Suas palavras são suas pernas, seus versos os seus braços, seus poemas coração e alma e no todo você é pura poesia. Obrigada, por este texto indizivelmente belo! Te amo, pessoa linda! Um beijo, de dentro do meu coração.
Celêdian

quarta-feira, 18 de maio de 2011

CASULOS

Casulo da seda - imagem Google

Às vezes há um bicho que desentranha-se.
Desentranha-se do ser um bicho, às vezes,
como a larva que eclode do ovo da mariposa,
tal lagarta, colhe do verde das folhas, sustento.
Ainda camuflada, tão indefesa, tão inocente,
precisa de tempo para que amareleça, amadureça,
para que as intempéries, a frieza não a mate e
renasça crisálida forte, capaz de segregar
o casulo da sua própria existência
e metamorfoseando buscar sobrevivência.
Como o imago, recomeçar um ciclo,
para que nunca se extinga a fina seda,
nem a magia do tecido fino dos sonhos,
que no casulo criam, o bicho e o ser,
cada qual no seu tempo de aprender a viver.

************************************************************************************
*Ciclo do bicho da seda: ovo da mariposa – estágios de larva - crisálida (lagarta) – imago (adulto) – casulo (usado na produção de fios de seda).

domingo, 15 de maio de 2011

EDIFICAÇÃO

Piracema - maio 2o11 - foto por Celêdian

Arquitetada a obra
Terreno preparado
Recebe o alicerce
Superpostos tijolos
Erguem-se paredes fortes
Construção, edifício
Grávida de ideias
Preparada a pena
Alicerce de emoção
Sobrepostas palavras
Erguem-se versos intensos
Edificação, poesia

quarta-feira, 11 de maio de 2011

GARIMPAGEM

Imagem Google


Nas minas garimpo
Intransigentes saudades
De escavadas lembranças
Brilhantes na mente
D’ouro e diamantes
Incrustados nas rochas
Das adolescentes memórias
Na bateia diviso
Das ricas pedras, apuro
O cerne, a essência
Essencialmente, gema
Da terra bruta, o prolixo
Saldo de incertezas
Da breve proeza
Projetada em vida

quarta-feira, 4 de maio de 2011

TRANSUBSTANCIAÇÃO

Imagem Google



Sou raiz
Fixada profundamente no chão
Base do caule que cresce
Sustento das folhas e flores
Dos frutos que saciarão
Fixo meus pensamentos
Profundamente no coração
Base do sentimento que cresce
Sustento da dor e da alegria
Dos frutos que nutrem a emoção

Sou caule
Tronco forte erguido do solo
Seiva em minhas artérias e veias
Injetadas, correndo sangue da vida
Meus galhos balouçam ao vento
Envergam-se em busca de luz
Resistem bravos às tempestades
Na busca do alimento da alma
Oxigênio que aspiro, tal folhas
Essência dos meus pensamentos

Aspirando e inspirando
Respiro, apuro e depuro
Extraio da lógica, toda a razão
Energizada, latente, sobrevivente
Pulsa a vida entre razão e emoção
Tal planta, ser vivo, sou viva
Acrescida de alma, mente e coração

quinta-feira, 21 de abril de 2011

ECOS DAS INQUIETUDES

Vista de minha varanda para as montanhas de Piracema - Minas Gerais


Um grito mudo, rompendo a surdez do vento,
alcança os ouvidos das longínquas montanhas.
O eco surdo rompe a mudez do pensamento,
libertando dores encarceradas nas entranhas.

Atordoada a mente, ouve da alma o lamento,
como cantigas desafinadas, soando estranhas,
no elo perdido entre memórias e esquecimento,
Contemplo o som dos ecos em suas artimanhas.

Do olhar do qual ora me invisto, ora me isento,
para as cores cinzentas do reflexo das sanhas,
contrastam tons esmaecidos de um momento,

que, mais amenos tingem as dores tamanhas.
Busco a paz nas cores e sons e em tal intento,
faço minha cúmplice a quietude das montanhas.

terça-feira, 19 de abril de 2011

POEMA CONVEXO

Ensaio uma construção complexa
Em ousada e desconexa alteração
Exigindo a mera explicação anexa
Excluindo-se perplexa aceitação

Das palavras, a acepção desanexo
Da progressão exata, a gradação
Do poeta em abstração, perplexo
Do exercício complexo, aliteração

Imagens confusas da ação, reflexo
Incidindo anexo na apresentação
Inusitada adaptação com nexo
Irrompendo do plexo da criação

A leitura de assimilação complexa
Apenas poesia, com anexa ilação
Às vezes parece criação sem nexo
À pena do poeta, só reflexo da inspiração

quarta-feira, 13 de abril de 2011

SORVEDOURO


Imagem Google: O mito da caixa de Pandora faz alusão à origem dos males que permeiam o mundo.




Há dias e dias assim: secura insofismável,
De sede insopitável, anseios, desejos, sonhos...
Com um calor que emana da terra árida,
Como magma seco espalhado, sempre vivo,
Como espessa relva seca, sedenta de fertilidade,
Como se Deméter a tivesse abandonado,
Do Olimpo se retirado indignada,
De tristeza tomada, privada de colher e alimentar
Os filhos da terra, tal como sua filha Perséfone,
Até que Zeus implorasse em desejo ardente, pela seara.
Arma-se a tempestade, enegrecido o firmamento,
Projetando seus raios e trovões, remexe as entranhas,
Em inopinado movimento, abrem-se rachaduras,
Sôfregas por sorver fluidos de nimbus carregados,
E transformá-los em líquidos da ressurreição.
Em comunhão, céu e terra, coração e mente,
Esperam ávidos de renovação, os dias férteis,
Que façam nascer, vomitar, como Cronos,
Os filhos de Réia devorados, para então deuses,
De suas próprias vontades, amparados por Gaia
Dividam o universo e retomem seus dias,
Com a esperança que restou na caixa,
Depois de espalhados todos os males,
Que ressequiram a terra, deixaram em fogo,
O espírito dos homens, sequiosos,
Sempre inquietos, com eternas indagações.


***Mitologia: Zeus é o rei dos deuses, soberano do Monte Olimpo e deus do céu e do trovão. Zeus Cronida, tempestuoso, era filho de Cronos e Reia, o mais novo dos seis irmãos. Os outros cinco irmãos foram devorados pelo pai Cronos e quando Zeus, que fora salvo (de ser devorado) pela mãe Reia, com a ajuda de Gaia (a terra). Se tornou adulto, ofereceu ao pai uma bebida e fez com que Cronos vomitasse todos os seus irmãos (Hera, Hades, Poseidon, Héstia e Demeter).


Deméter, a deusa da fertilidade, dos cereais, mãe nutridora, irmã de Zeus e também sua quarta esposa, com quem teve uma filha, Perséfone. Esta raptada por Hades, deixou Deméter indignada, ela então abandonou o Olimpo por nove dias. Nada mais poderia nascer ali, até que Zeus implorou pela sua volta, para devolver a fertilidade para o Olimpo, com o que ela concorda somente sob a condição de ter Perséfone de volta. Após uma guerra de cem anos e orientados por Gaia, o universo é dividido entre os deuses: Então partilhou-se o universo, Zeus ficou com o céu e a Terra, Poseidon ficou com os oceanos e Hades ficou com o mundo dos mortos.


*A caixa de Pandora, é um mito grego no qual a existência da mulher e dos vários males do mundo são explicados. Na mitologia grega Pandora foi a primeira mulher dada como uma oferenda à humanidade por Zeus como uma punição pelo roubo do fogo feito por Prometheus. Foi confiada a ela uma caixa contendo todas as adversidades que poderiam afligir as pessoas. Ela abriu a caixa por curiosidade e, consequentemente, libertou todos os males da vida humana. Logo percebendo o erro que cometera, Pandora se apressou em fechar a caixa. Com isso, ela conseguiu preservar o único dom positivo que fora depositado naquele recipiente: a esperança.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

ESSÊNCIA FEMININA

Hortênsias de cores e aromas especiais - Piracema - Foto por Celêdian



Mulher é um ser tão diferente
Tão forte na sua fragilidade
Tão frágil na sua fortaleza
Triste se esvai em lágrimas
Na alegria em prantos iguais
Ama com a força da alma
Intensa se entrega forte
Agasalha, aninha, protege
Despe-se de si e se doa
Com igual simplicidade
Veste-se e ousa pedir
Sabe que quer carinho
Afeto, ternura, amor...
Entende da sutil diferença
Entre o amor e o querer
Se preterida, sofre sua dor
Querida, ama desvairada
A mulher mãe é toda pura
É feliz por pouco
Sorriso de filho, apogeu
Felicidade tamanha, ímpar

Que seja a mulher vista
Feminina, erótica e louca
Que almeja não ser a santa
Sonha, fantasia, deseja
Espera, se guarda, se poupa
Acredita, perdoa, às vezes grita
Compreendida, se agiganta
E se não, retrai-se, recua
Tímida, acuada, com pudor
De súbito reergue-se, forte
Altiva, nobre, é força do afeto
Mulheres diversas, mulheres mil
Bravas e mansas, fortes e fracas
Bonitas e feias, amargas e doces
Amadas ou não, novas e velhas
Vaidosas ou sem viço
A mãe, a filha, esposa ou amante
Namorada ou amiga
São todas tão únicas, tão belas
Indispensáveis, inigualáveis
Não importa esta ou aquela
São na essência apenas mulheres.

segunda-feira, 28 de março de 2011

RETROALIMENTAÇÃO

Planta que sobrevive à seca, às custas de seus reservatórios de água e sais - Piracema -03/11 - Foto by Celêdian

Na página alva e viva

Derramo cristais

Que escorrem dos olhos

Em vã tentativa

De torná-la brilhante

Quebrando angústias

Tento borrá-la

Com versos azuis

Mesmo dispersos

Sejam impressos

Como mata borrão

Que suga palavras

Da alma inquieta

Sem inspiração.


Na página branca

Rolam e em fuga

Espatifam-se no chão

Rompem-se vértices

Das lágrimas de cristais

Sorvidas pelo solo

Tornam-se seiva dos sais

Realimentam o poeta

Que faz brotar em poesia

A remição de seus ais

terça-feira, 15 de março de 2011

SOB OUTRA ÓTICA

Pintura Espelho falso "as cores não exatamente as do céu, estão em nossos olhos" - Magritte


Dois lados, o lado de lá, o lado de cá.
Entremeio uma superfície fria a separar.
A luz numa reflexão natural e regular,
projeta-se na pele nua que lá está.

No princípio parecia imagem especular,
das raias da imaginação em pura magia.
Côncavo e convexo abraçados em poesia,
numa imagem real, raios a se encontrar.

Prolongaram-se os raios e refletidos,
convergiram para uma doce paixão,
tal espelho plano, a deliciosa revelação,
pelas virtuais imagens, enlouquecidos.

Por vezes turvaram-se os olhos distantes,
num lusco fusco, de tal emoção tomados
e sem cadência, como versos desritmados,
declamados ais, em suspiros extasiantes.

Espelho duplo, como se espreitassem
de lá e de cá, como se vidro fosse,
translúcido e como se poros tivesse,
por onde seus perfumes exalassem

E foram tantos cheiros, até as cores,
na projeção de tantos beijos loucos,
dos lábios rubros, sussurros roucos,
espelhados nos mais reais sabores.

sexta-feira, 11 de março de 2011

DIVÃ

Paisagem que me inspira em Piracema - 03/11


Pacientemente, a poesia,


ouve lamúrias atenta,


capta também alegria,


tudo que a alma ostenta


e o poeta lhe confidencia.


Das lembranças que sustenta,


dele, o vivo coração,


vibram em perfeita sintonia,


a dor que a alma lamenta


e o calor de louca paixão,


soando nos versos, tal sinfonia,


a essência e poder da criação.

quarta-feira, 2 de março de 2011

INDOMÁVEL


Governado pela rainha, no seu reino de magia
Irrequieto o coração, em tão cega obediência
Submete-se súdito, aos caprichos da fantasia
Cede aos desmandos, com clara subserviência

Beija-lhe mãos e pés, curvando-se diante dela
Sôfrego e hesitante, ele, rende-lhe reverência
Com olhar penetrante, seu amor que se revela
Ela, imponente, assedia-o, simulando carência

Seduzidos os sentidos, é feitiço que o intima
O súdito embevecido, pela sua musa, suspira
Sucumbe aos apelos, da rainha que o domina

Realidade ou quimera, amor, tristeza, alegria
No reino da inspiração, o súdito é só o poeta
-Refém da rainha indomável, a própria poesia

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

FIGURAS DO MEU PENSAMENTO

Desfilando em meu pensamento
Palavras livres, soltas na mente
Perco-me em meu alheamento
Colhendo-as todas, avidamente

Abraçando as palavras queridas
Beijo os recursos que me dão
Que ora acariciam as feridas
Ou, ora ferem forte o coração

Ora fazem-me chorar de alegria
E tristes, cantam minha solidão
Zombo delas, as visto de ironia
Choro, rio, desdenho da ilusão

Exploro-as na antítese que alia
Todos meus sentidos opostos
Se morro de amor nos versos
E vivo do meu amor à poesia

É preciso às vezes interromper
E em breve apóstrofe suplicar
Tende dó, poesia, do meu ser
Nunca me deixe de ti abdicar

Mudas, prosopopéia parecem
Palavras que gemem ansiosas
Por versos que as enobrecem
Ávidas e da poesia sequiosas

Há sofrimentos, perco a calma
Se a inspiração vai, se ausenta
Entrego a Deus a minha alma
Neste eufemismo que sustenta

No pensamento, palavra e figura
Dos sentidos uma pura gradação
Sou pobre, sou nada, sou agrura
Se não sou poeta, sou só ilusão

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

MUSAS - AMORES ARREBATADORES

Qual mulher não se perdeu em muitas fantasias,
tal qual conta a história de musas apaixonantes,
reverenciadas naqueles romances de cavalarias,
- Aldonza de Lorenza, a Dulcinéia de Cervantes.

Ser do poeta inconfidente, a estrela, a mais bela,
- Maria Dorothéia, a tão doce Marília de Gonzaga,
amada, nas liras tecidas a punho, tantas por ela,
- legando ao amor e em poesia, a mais rica saga.


Ser desejada musa do romance de José de Alencar,
a virgem dos lábios de mel, tão amada, por Martin,
cabelos negros tal asas da graúna, que fez arrebatar,
desejos pela Iracema, seus encantos, amor sem fim.

Ser mulher, que por si, cem sonetos foram dedicados,
apelando à lua que os consagre, que só amor os acuda,
de Matilde a Rosário, nome entre os amantes trocados,
entre amores o mais ardente, do grande Pablo Neruda.

Belas! Campesina, dama, pastora, selvagem e urbana,
mulheres, musas nos sonhos dos poetas, fantasiadas,
elas, Dulcinéia, Marília de Dirceu, Iracema e Rosário,
por tanto amor e tão amadas, tornaram-se encantadas.

SAUDADE EM GOTAS

Na janela escorrem lentamente,

pingos brilhantes de chuva,

são lágrimas do céu.

Dos olhos vertem líquidas,

gotículas de saudade intensa,

dores do coração.

Escoam impiedosamente.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

CUMPLICIDADE

Piracema - 02/11- Da minha janela, maritacas falam de amor


Na harmoniosa coesão dos lábios mudos,
suaves, molhados, com brilho de cetim,
carícias doces, macias como os veludos,
simulam no céu da boca, estrelas, frenesim.

Com seu brilho tão intenso e diferente,
nas cores dos beijos em total deleite,
prazer puro, que deixa inerte a mente,
prolongado, mesmo que não se suspeite.

Dos cheiros, brilhos, sabores e cores,
no cúmplice toque dos sãos desejos,
Corpo e alma sanam todas as dores.

Em gestos simples e tão marcantes,
os beijos selam e pactuam silentes,
os anseios íntimos, tão semelhantes.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

PAISAGEM NA POESIA DO TEMPO

Piracema - paisagem onde vivi minha infância - Foto by Celêdian jan/2011

O caminho se estende como tapete espesso,
nele percorro em curvas, memórias de mim,
marcadas nas espalhadas palavras que teço,
recolhidas em versos, parindo poesia enfim.

Longe a velha porteira, perto o velho cupim,
longínquas passagens, as quais não esqueço,
pueris lembranças doces, saudades sem fim,
adolescentes vontades, do tempo o começo.

Cerrado verde recém molhado, bem conheço,
resquícios dos cheiros, sabores, coisas assim,
impregnados n’alma, do tempo que arrefeço.

É doce rever a trilha por onde me reconheço
menina, desconhecendo da vida o frenesim,
brinco de ser poeta no rumo que estabeleço.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

TRAVESSIA

É tênue a ponte entre os caminhos da lógica mente
e os percursos da emoção, desvendando devaneios,
decifrando os desejos íntimos e a ilusão meramente
livre dos liames da realidade, entre os outros meios,
com capacidade de surpreender, momentaneamente.

E há por detrás das coisas e do tempo, uma vida latente,
acarretando à vontade, movimentos próprios dos anseios
dissociados da razão, em discretas sugestões e fremente
há mais que a sensualidade poderosa, abstrata, meneios,
provocando humores, sentimentos do veio e da vertente.

Ora revoltos, ora numa cadência calma e benevolente,
todos sentidos contemplados, numa evocação visceral,
seduzida pela emoção, degenera a razão, inconsciente
suprime da carne, a mente, sucumbindo ao aceno vital,
da alma que clama por seguir a trilha, incontidamente,
da emoção, travessia natural para tornar o sonho real.

ENTRE ÁGUAS E VENTOS

Na lâmina d’água que escorre límpida e calma entre sulcos da terra,
Quando desmaia exausta em rios e riachos, águas em altas quedas,
Despencadas da cachoeira, nos véus de espuma em alva opacidade,
Descortina-se a especular imagem, atônita a alma líquida se descerra.

Quem das águas sentiu, quiçá pode entender o movimento do vento,
Que ora varre quimeras, ora as espalha em outros fecundos terrenos,
Sente da aragem, rajadas lambendo a pele, sob ela a carne açoitada,
De desejos, fogo ardente, reacender brasas, sem cinzas, eis o intento.

Em brasas repousam corpo e alma e nas cinzas remanescentes, ilusão.
Ora, direis: - não é a água que escorre na superfície, um espelho vivo,
que deixa refletir os movimentos do vento? Não é vento que espalha,
cinzas e que deixa sequiosa a alma, de amor perene e incandescente?

Eis que entre águas e ventos, vertem-se em poesia, coração e mente.