Homenagens poéticas


Lembra-me no seu estilo, o simbolismo, movimento poético de revalorização do subjetivismo e da vida espiritual, e que explora muitissimo bem o poder de sugestão das palavras. Lembra-me, Cruz e Sousa em suas vibrantes explosões e Alphonsus de Guimarães com a sua espiritualidade e seu lirismo melancólico. Enfim, destaco o poeta Jorge Eduardo Maia, raro, lindo, um simbolista em tempos modernos, que soube indubitavelmente, com seu prestimoso estímulo e confiança, reacender em mim uma chama que parecia extinta,  aquela que agora volta transcrita nos meus simples versos. Obrigada sempre, meu amigo Eduardo, por ter-me incentivado voltar a escrever. Abaixo, o primeiro poema seu que tive o prazer de ler (Meu Ipê Amarelo) e o segundo (Desafio), como agradecimento e minha singela homenagem ao grande poeta que é.

O MEU IPÊ AMARELO

O calor vai carpindo pelos meados do sempre neste cerrado infinito em silêncio,

E antes mesmo de se apagar toda a luz das noites obradas por nosso Senhor,

E cair do pedaço mais etéreo deste universo a gota doce e cálida do sereno frio,

Sobrevive ao tempo, em evolução, a emoção indescritível do desabrochar desta flor


Dilacerada pelas labaredas de todos os verões, sobrevivente de cinzas, tortura e dor

Vai-se lapidando com a morte, renascendo na sobrevida de todo o mistério,

E, esmaecida, docemente pálida, ergue-se do pó num incrédulo milagre de amor,

Como se tudo fosse nada e nada fosse um eterno fim dum indescritível principio.

Tangida pela apoteótica cintilação de cada estação ergue-se com todo o clamor,

Deixando olhares perdidos na razão de cada razão, que nunca poderão entender

O porquê do tule roxo róseo e branco da natureza deste incompreendido louvor...

Que por fim elege entre todas, entre as mais belas, as amarelas, o meu maior amor...

Preferidas ao nada para sempre, as da minha existência, ainda por compreender,

E, certamente, aonde a sombra da minha alma transita entre o viver e o morrer.

Jorge Eduardo Maia
Brasília 21 de Novembro de 2005
(fotografia by Celêdian Assis)

Ipê Roxo - Imagem Google

MEU IPÊ ROXO

Eis que tantos invernos chegaram e partiram
E que tantos olhares te olharam  enternecido
E que as tuas  folhas no livro  da razão se viraram
Na  esperança dos que sem ti ficaram desiludidos

Eis que te dizem parente das demais, como os híbridos,
E que espalhas floradas  na primazia dos que esperaram
o tule roxo da nova Canaã  entre perdidos e escolhidos
Para renasceres em borbotões das estações que se foram

Eis que eis-me à tua espera, como as demais em sua vez,
De te anunciarem ao incêndio dos tempos do cerrado
No florir de  outras  três tonalidades, que refém da vida me fez

Oh Meu Ipê Roxo só Deus te fez o meu primado
Essencial à própria existência dos demais em tênue tez
Que me inspirou e clama o paradigma celestial e sagrado .

                             Brasília 28 de Junho de 2012

                                    EDUARDO MAIA

DESAFIO















Não rendas o gesto
A dedução consente
A razão até pressente...
Simula o ato no afeto!

Distancia-te por perto,
Mostra-te ausente
Simples e distante,
Pelo caminho incerto

O encontro é instante
Buscado pelo infinito
Num lugar ali adiante

Caminha pelo poente
E na contenção do grito
Ousa essa luz emergente .

Brasília 15 de novembro de 2007
JORGE EDUARDO MAIA
(fotografia by Reynaldo Monteiro)

TRIBUTO À LUZ DO POETA CLÁUDIO SANTOS
Itacaré - Bahia - Brasil

É no começo da virada que sinto

A virada de um começo que conheço

No passo lento, mas firme e consciente

Fortalecendo as suas certezas, fielmente

Na poesia encontrando seu bálsamo

Da natureza que o inspira, lindamente

Do mar, da montanha que vem seu alimento

O sustento da alma bela e o belo falar da mente

Em seu canto privilegiado, do iluminado

Brotam as palavras em versos, naturalmente

Entre sorrisos ou lágrimas insistentes

Emociona-se e emociona-nos grandemente

Doa a calma, doce, prega a esperança

E com a mesma firmeza e lucidez

Grita a injustiça, repreende a insensatez

Com tranquilidade, demonstra confiança

No seu caminhar rumo ao seu alvo maior

É nobre, deseja apenas compartilhar

O positivo, o construtivo, o evolutivo

Para amenizar os males da humanidade

Sonhando para ela o bem e que seja definitivo

Mostra com zelo a força da união

Sabe que metamorfoseando sempre

Nasce, cresce, morre, renasce e se agiganta

O burguês, o tesoureiro e quem sabe um atleta

Experiências vividas, sonhos, desejos

Nada foi em vão, o ator, o cantor e o poeta

Emergiram de um dom natural e de toda a sofreguidão

Com discernimento fez bela escolha

Pela sensibilidade consagrou-se à simplicidade

Sua meta é buscar para si e para o outro, a harmonia

Não perder de vista a sua espontaneidade

Intencional, deixa escorrer em versos, a chuva, a lama

Com a percepção dos sentidos apurada para a criação

Quem vê maravilhado, o nascer de um dia especial

Na beleza das flores do campo, na magia celestial

Como a um jardineiro, planta, aduba, rega e cuida

Do que lhe é caro na vida, o sabor de sentir emoção

Para deixar aflorar em poesia, a grandeza do coração

Com tanta pureza d’alma que lhe traz a inspiração

Quisera eu enumerar tantas proezas suas com as letras

Sua maestria em reger as palavras, com louvor

Porém diante de tão vasta criação poética, paro

Apenas arremato com toda a minha admiração

E das palavras suas faço o meu compromisso

Sempre serei vigilante, pois você me é muito importante.

Um apelo: sê poeta sempre, continua a encantar

Sê luz como as estrelas, espalhe seu brilho próprio

E principalmente faça-se sempre feliz.


Um beijo com carinho da sua amiga,

Celêdian Assis

Amigo Cláudio, difícil demais escolher entre suas poesias, duas que sejam as mais belas, missão quase impossível, pois a cada uma que leio fico mais extasiada, então não há nenhum critério de escolha aqui:

TRISTEZA NÃO, LEVEZA SIM!

Recuso-me a dissertar sobre a tristeza,
Prefiro versejar sobre a leveza.

A primeira, todos a conhecem, detalhadamente.
Já, a segunda, poucos a concebem minuciosamente.
A primeira nos trouxe até aqui.
A segunda há de nos levar por aí...
Numa dança solta,
Rebelde, um pouco louca.
Irresistível,
Intransferível.

A leveza é a maior prova de sabedoria,
Ápice da harmonia.
Prenuncia um novo tempo,
Banhado em alento.
Requer um padrão de autoconhecimento,
Não encontrado, não fornecido,
Pelo estabelecido
E deturpado pelo conhecimento.

A tristeza é tempestade.
Assolando a cidade...
Um incômodo contínuo,
De ângulo oblíquo.
Vem sendo exageradamente, enaltecida,
Quando, em verdade, já deveria estar recolhida...
Fonte de inspiração esgotada,
Ainda mantém sua platéia-refém lotada.
Tem a cor cinza.
É a essência da cinza...
Enlouquece,
Empobrece,
Possui requintes de crueldade.
Caminha impunemente, pelas ruas da cidade.
Angariando indivíduos,
Com seus ilusórios subsídios.
A leveza tem som de sim.
É tudo que almejo em mim...
É coloridamente branca...
Paz tamanha!
Desperta a divindade,
Dentro da individualidade.
Frescor da tarde...
Convite à arte!

Claudio Poeta
Publicado no Recanto das Letras em 12/02/2010

ABSOLUTO EM MIM


Nesse exato momento,
Todo o meu ser pulsa sentimento.
Tudo está me impactando,
De forma avassaladora,
Um tanto quanto constrangedora.
Sinto-me queimando,
Ardendo,
Irrompendo...
Sempre fui sensível, mas, nos últimos tempos,
Vivo em ininterrupto arrebatamento!
Olho à minha volta
E percebo uma invisível escolta...
Disponho também de alguns poucos amigos,
Que se esforçam para me acompanhar,
Para me proporcionar abrigo
De algum possível e provável perigo.
É como se eu fosse só coração,
Como se ele estivesse determinando a situação,
Sozinho,
Escolhendo e abrindo o caminho,
De acordo com seu critério
E todo seu mistério.
Uma experiência absolutamente intensa,
Abusadamente imensa.
Tenho constantes tremores,
Com diversificados sabores...
É um impacto seguido a outro
E as lágrimas escorrem pelo rosto,
Imponderáveis,
Indecifráveis!
Não são exatamente de tristeza,
Talvez, sejam um retorno à leveza.
O fato é que nunca tinha visto o mundo assim...
Inteiro, absoluto em mim!
Como se efetivamente, tudo me dissesse respeito,
Inundando e expandindo o peito.
Vejo as coisas como nunca tinha visto...
Sinto-as como se nunca tivesse sentido!
Os dados estão sofrendo um reposicionamento.
Parece até um renascimento!
Não sei, ao certo, aonde isso vai me levar.
Estou certo que preciso continuar.
Já passei do último retorno...
Agora é explorar esse novo contorno,
Essa alucinada forma de perceber.
De querer devorar o viver,
Do alto da corda sobre o abismo,
Esticada com emoção e preciosismo.
Claudio Poeta
Publicado no Recanto das Letras em 06/02/2010




2 comentários:

  1. Lindas as poesias de Jorge Eduardo. Gostei demais! Quanto à minha homenagem, não existem palavras para agradecer.Que bom que foi difícil escolher dois dos meus textos... rsrs Eu gosto dos dois que você escolheu. Muito obrigado pela presença, pelo carinho, pelo incentivo, pela companhia. Você é demais! O universo da poesia é o melhor! Seja muito feliz nele! Parabéns, amiga querida! Abração, Celêdian

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  2. Adorei o simbolismo da foto maravilhosa de Itacaré!!! Muito obrigado! Abração

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