quarta-feira, 13 de abril de 2011

SORVEDOURO


Imagem Google: O mito da caixa de Pandora faz alusão à origem dos males que permeiam o mundo.




Há dias e dias assim: secura insofismável,
De sede insopitável, anseios, desejos, sonhos...
Com um calor que emana da terra árida,
Como magma seco espalhado, sempre vivo,
Como espessa relva seca, sedenta de fertilidade,
Como se Deméter a tivesse abandonado,
Do Olimpo se retirado indignada,
De tristeza tomada, privada de colher e alimentar
Os filhos da terra, tal como sua filha Perséfone,
Até que Zeus implorasse em desejo ardente, pela seara.
Arma-se a tempestade, enegrecido o firmamento,
Projetando seus raios e trovões, remexe as entranhas,
Em inopinado movimento, abrem-se rachaduras,
Sôfregas por sorver fluidos de nimbus carregados,
E transformá-los em líquidos da ressurreição.
Em comunhão, céu e terra, coração e mente,
Esperam ávidos de renovação, os dias férteis,
Que façam nascer, vomitar, como Cronos,
Os filhos de Réia devorados, para então deuses,
De suas próprias vontades, amparados por Gaia
Dividam o universo e retomem seus dias,
Com a esperança que restou na caixa,
Depois de espalhados todos os males,
Que ressequiram a terra, deixaram em fogo,
O espírito dos homens, sequiosos,
Sempre inquietos, com eternas indagações.


***Mitologia: Zeus é o rei dos deuses, soberano do Monte Olimpo e deus do céu e do trovão. Zeus Cronida, tempestuoso, era filho de Cronos e Reia, o mais novo dos seis irmãos. Os outros cinco irmãos foram devorados pelo pai Cronos e quando Zeus, que fora salvo (de ser devorado) pela mãe Reia, com a ajuda de Gaia (a terra). Se tornou adulto, ofereceu ao pai uma bebida e fez com que Cronos vomitasse todos os seus irmãos (Hera, Hades, Poseidon, Héstia e Demeter).


Deméter, a deusa da fertilidade, dos cereais, mãe nutridora, irmã de Zeus e também sua quarta esposa, com quem teve uma filha, Perséfone. Esta raptada por Hades, deixou Deméter indignada, ela então abandonou o Olimpo por nove dias. Nada mais poderia nascer ali, até que Zeus implorou pela sua volta, para devolver a fertilidade para o Olimpo, com o que ela concorda somente sob a condição de ter Perséfone de volta. Após uma guerra de cem anos e orientados por Gaia, o universo é dividido entre os deuses: Então partilhou-se o universo, Zeus ficou com o céu e a Terra, Poseidon ficou com os oceanos e Hades ficou com o mundo dos mortos.


*A caixa de Pandora, é um mito grego no qual a existência da mulher e dos vários males do mundo são explicados. Na mitologia grega Pandora foi a primeira mulher dada como uma oferenda à humanidade por Zeus como uma punição pelo roubo do fogo feito por Prometheus. Foi confiada a ela uma caixa contendo todas as adversidades que poderiam afligir as pessoas. Ela abriu a caixa por curiosidade e, consequentemente, libertou todos os males da vida humana. Logo percebendo o erro que cometera, Pandora se apressou em fechar a caixa. Com isso, ela conseguiu preservar o único dom positivo que fora depositado naquele recipiente: a esperança.

4 comentários:

  1. Homericamente, reverencio-te, nesta apologia à vida e à greco-mitologia! Um beijo do amigo (e fã) Jorge, feliz com este teu retorno à pena.

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  2. Celêdian, minha querida amiga, acho que andamos em plena sintonia. Durante uma semana, pesquisei e virei a web procurando textos sobre a Caixa de Pandora. Tencionava escrever algo sobre, mas achei por demais complexo e deixei de lado, momentaneamente. Chegando aqui, me deparo com uma verdadeira aula sobre o assunto, e mais, uma aula sobre toda a mitologia. Fantástico.

    Fico imensamente grato a ti por suas visitas aos meus cantinhos, e nem pense em pedir desculpas pelo tamanho dos comentários, pois não há nada mais satisfatório para quem escreve do que sentir que seus textos despertaram curiosidades, opiniões, idéias ou discussões (no bom sentido da palavra... rsrs). E ter você comentando meus textos, assim como o Cacá, o André e a Ange, entre outros, é um luxo só.

    Aliás, quero deixar um convite feito aqui, para daqui algum tempo. Ficaria imensamente feliz se você aceitasse ser entrevistada por mim lá no Arena. O que você acha? Te garanto que muitas pessoas vão adorar se você aceitar.

    Celêdian, minha amiga, um ótimo fim de semana prá ti.

    Marcio

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  3. Minha querida Celêdian, o seu poema é um maravilhoso afresco da mitologia grega e, ao mesmo tempo, um texto didático exemplar. Um texto sinóptico em forma de poema, ousaria dizer. E talvez plurissêmico, posto que as alegorias e símbolos podem se trançar não mais ao cotidiano olímpico, mas ao mundano: o nosso.

    Um texto saboroso, querida poetisa, impregnado desse misto de dramaticidade e lirismo que, por vêzes, caracteriza a sua poesia. Atavismo entre culturas, esse mito faz-me sempre lembrar-me da nossa lenda nacional da criação da noite. Pandora aqui foi substituída pela filha de Cobra Grande e a caixa, mutantis mutandis, virou uma noz de côco.

    Todavia, seja caixa, seja côco, abri-las foi um ato temerário e, se não fosse a presença das Musas, nada mais teríamos que males espalhados por todo lugar, mesmo na internet!

    Minha reverência, nobre poetisa, sua lira brilha como a de Homero. Um grande abraço, o meu carinho, e bom fim de semana.

    André

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  4. Sutileza da alma. Obrigado pelo belo poema.

    João

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