Pintura Espelho falso "as cores não exatamente as do céu, estão em nossos olhos" - Magritte
Dois lados, o lado de lá, o lado de cá.
Entremeio uma superfície fria a separar.
A luz numa reflexão natural e regular,
projeta-se na pele nua que lá está.
No princípio parecia imagem especular,
das raias da imaginação em pura magia.
Côncavo e convexo abraçados em poesia,
numa imagem real, raios a se encontrar.
Prolongaram-se os raios e refletidos,
convergiram para uma doce paixão,
tal espelho plano, a deliciosa revelação,
pelas virtuais imagens, enlouquecidos.
Por vezes turvaram-se os olhos distantes,
num lusco fusco, de tal emoção tomados
e sem cadência, como versos desritmados,
declamados ais, em suspiros extasiantes.
Espelho duplo, como se espreitassem
de lá e de cá, como se vidro fosse,
translúcido e como se poros tivesse,
por onde seus perfumes exalassem
E foram tantos cheiros, até as cores,
na projeção de tantos beijos loucos,
dos lábios rubros, sussurros roucos,
espelhados nos mais reais sabores.