terça-feira, 18 de janeiro de 2011

PAISAGEM NA POESIA DO TEMPO

Piracema - paisagem onde vivi minha infância - Foto by Celêdian jan/2011

O caminho se estende como tapete espesso,
nele percorro em curvas, memórias de mim,
marcadas nas espalhadas palavras que teço,
recolhidas em versos, parindo poesia enfim.

Longe a velha porteira, perto o velho cupim,
longínquas passagens, as quais não esqueço,
pueris lembranças doces, saudades sem fim,
adolescentes vontades, do tempo o começo.

Cerrado verde recém molhado, bem conheço,
resquícios dos cheiros, sabores, coisas assim,
impregnados n’alma, do tempo que arrefeço.

É doce rever a trilha por onde me reconheço
menina, desconhecendo da vida o frenesim,
brinco de ser poeta no rumo que estabeleço.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

TRAVESSIA

É tênue a ponte entre os caminhos da lógica mente
e os percursos da emoção, desvendando devaneios,
decifrando os desejos íntimos e a ilusão meramente
livre dos liames da realidade, entre os outros meios,
com capacidade de surpreender, momentaneamente.

E há por detrás das coisas e do tempo, uma vida latente,
acarretando à vontade, movimentos próprios dos anseios
dissociados da razão, em discretas sugestões e fremente
há mais que a sensualidade poderosa, abstrata, meneios,
provocando humores, sentimentos do veio e da vertente.

Ora revoltos, ora numa cadência calma e benevolente,
todos sentidos contemplados, numa evocação visceral,
seduzida pela emoção, degenera a razão, inconsciente
suprime da carne, a mente, sucumbindo ao aceno vital,
da alma que clama por seguir a trilha, incontidamente,
da emoção, travessia natural para tornar o sonho real.

ENTRE ÁGUAS E VENTOS

Na lâmina d’água que escorre límpida e calma entre sulcos da terra,
Quando desmaia exausta em rios e riachos, águas em altas quedas,
Despencadas da cachoeira, nos véus de espuma em alva opacidade,
Descortina-se a especular imagem, atônita a alma líquida se descerra.

Quem das águas sentiu, quiçá pode entender o movimento do vento,
Que ora varre quimeras, ora as espalha em outros fecundos terrenos,
Sente da aragem, rajadas lambendo a pele, sob ela a carne açoitada,
De desejos, fogo ardente, reacender brasas, sem cinzas, eis o intento.

Em brasas repousam corpo e alma e nas cinzas remanescentes, ilusão.
Ora, direis: - não é a água que escorre na superfície, um espelho vivo,
que deixa refletir os movimentos do vento? Não é vento que espalha,
cinzas e que deixa sequiosa a alma, de amor perene e incandescente?

Eis que entre águas e ventos, vertem-se em poesia, coração e mente.